Apneia do Sono para Leigos
Como suspeitar, quando investigar e quando não se preocupar.
A maior parte das pessoas ronca, mas ronco não é sinônimo de apneia do sono. O ronco é apenas um som, enquanto a apneia é uma doença em que a respiração para repetidas vezes durante a noite.
Por isso, não faz sentido solicitar polissonografia para qualquer pessoa que ronca. O raciocínio correto é bayesiano: antes do teste, avaliamos a probabilidade inicial de a pessoa realmente ter apneia. O teste só é útil quando essa probabilidade já é moderada ou alta.
1. Probabilidade inicial — quem tem maior chance?
A prevalência na população adulta varia de 10% a 20%, aumentando conforme fatores como:
- obesidade
- circunferência do pescoço aumentada
- ronco alto e frequente
- sonolência diurna intensa
- hipertensão resistente
- idade acima de 40 anos
- sexo masculino (mas mulheres também têm, porém frequentemente subdiagnosticadas)
Interpretação prática:
— Roncador sem sintomas → baixa chance.
— Roncador com sonolência, obesidade ou pausas respiratórias observadas → alta chance.
2. Ronco isolado → baixa suspeita
O ronco é muito comum e, sozinho, é fraco para predizer apneia. Com prevalência inicial baixa, mesmo um teste excelente altera pouco o resultado final.
Conclusão: não se recomenda polissonografia apenas porque a pessoa ronca.
3. Sonolência diurna → forte aumento da suspeita
A sonolência intensa indica que o sono está sendo interrompido. Sinais importantes incluem:
- dormir ao volante
- cochilar sem desejar
- acordar cansado
- dor de cabeça matinal
- dificuldade de concentração
- irritabilidade
Regra prática: ronco + sonolência → suspeita alta → vale investigar.
4. Quando fazer a polissonografia
Indicado quando há suspeita moderada ou alta:
- ronco + sonolência diurna
- ronco + pausas respiratórias observadas
- ronco + hipertensão resistente
- ronco + obesidade
- sonolência intensa mesmo sem ronco
- histórico de acidentes relacionados ao sono
Geralmente NÃO indicado quando:
- ronco leve e sem sintomas
- ronco ocasional sem fatores de risco
- check-up sem queixas
5. Acurácia da polissonografia
A polissonografia é o padrão-ouro:
- Sensibilidade: ~90%
- Especificidade: ~85–90%
Para leigos:
— Teste positivo → quase certeza de apneia.
— Teste negativo → quase certeza de ausência.
— O valor depende da suspeita inicial.
6. Probabilidade de sucesso do tratamento
O tratamento padrão é o CPAP. Em apneia moderada ou grave:
- Alívio dos sintomas: 70–90%
- Melhora rápida da sonolência: dias
- Redução do ronco: praticamente 100%
- Adesão a longo prazo: 50–70%
Quando a apneia é confirmada, o tratamento funciona na maioria dos casos e melhora muito a qualidade de vida.
7. Conclusão simples para o público leigo
1. Roncar não é igual a ter apneia.
2. Só vale fazer polissonografia quando a suspeita é moderada ou alta.
3. O teste é excelente, mas só brilha nas pessoas certas.
4. Quando confirmado, o tratamento funciona muito bem.