Tratamento das lesões de carótida assintomáticas: evolução em 30 anos
Tratamento das lesões de carótida assintomáticas: evolução em 30 anos
Nos anos 1990, o tratamento medicamentoso (com remédios para controlar pressão, colesterol e coagulação) ainda era pouco eficaz. Nessa época, os estudos mostravam que a cirurgia de endarterectomia (limpeza da artéria carótida) reduzia o risco de derrame em comparação com apenas remédios.
A partir dos anos 2000, surgiu uma terceira opção: o stent carotídeo, um tubo de metal colocado dentro da artéria para mantê-la aberta. Estudos passaram a comparar cirurgia e stent, mostrando resultados parecidos em muitos casos, mas com diferenças nos riscos imediatos (a cirurgia tendia a ter mais risco cardíaco e o stent mais risco de AVC no procedimento).
Nos últimos 20 anos, a grande mudança foi o avanço dos tratamentos medicamentosos modernos (estatinas potentes, antiplaquetários, controle rigoroso da pressão arterial). Com isso, o risco de derrame para quem só toma remédios caiu bastante — chegando a níveis tão baixos que muitas vezes a cirurgia ou o stent não trazem vantagem clara.
Estudos recentes, como o ECST-2, sugerem que em pacientes de baixo ou médio risco (avaliados por exames e escores clínicos), só o tratamento medicamentoso já é suficiente nos primeiros anos, sem benefício adicional imediato de cirurgia ou stent. Já em casos muito graves, algumas revisões ainda apontam possível benefício da revascularização (cirurgia ou stent), mas isso depende das características individuais de cada paciente.
O que perguntar ao especialista
Para tomar uma decisão informada, um paciente deve pelo menos perguntar:
- Qual é o meu risco real de derrame se eu ficar apenas no tratamento com remédios modernos?
- No meu caso, há alguma evidência de que cirurgia ou stent trariam mais benefício do que risco?
- Quais são os riscos imediatos de cada opção (remédios, cirurgia ou stent) e como eles se aplicam à minha situação específica?
- Qual é o risco para o cérebro em relação à redução do fluxo sanguíneo causado pela placa, quando não tratada?
Como comparar os percentuais de risco
1. Entender a unidade de tempo
- Se o médico falar: “Seu risco é de 1% ao ano”, isso significa que a cada 100 pessoas como você, 1 teria derrame a cada ano.
- Já se falar em “5% em 5 anos”, é como dizer que em 100 pessoas, 5 teriam derrame em 5 anos.
2. Colocar os números lado a lado
Imagine que o especialista diga:
- Só com remédios modernos: risco de 1% ao ano.
- Com cirurgia: risco imediato de 3% de complicação (no próprio procedimento) + risco menor depois (0,5% ao ano).
- Com stent: risco imediato de 4% de complicação + depois risco parecido com a cirurgia.
O paciente pode comparar assim:
- “Se eu não operar, tenho 1% ao ano.”
- “Se eu operar, só no dia da cirurgia já corro 3–4% de risco.”
- Então precisa se perguntar: vale a pena assumir o risco imediato para tentar ganhar um risco menor ao longo do tempo?
3. Transformar percentuais em pessoas
Uma técnica útil é imaginar 100 pessoas iguais a você:
- Se 100 pessoas ficarem só nos remédios, 1 terá derrame por ano.
- Se 100 fizerem cirurgia, 3 ou 4 podem ter complicação na hora, mas depois só 0,5 terão derrame por ano.
Isso ajuda a visualizar.
4. Perguntar sobre o “meu risco específico”
Não basta saber os números médios dos estudos. É importante perguntar:
- “No meu caso, considerando minha idade, exames e saúde geral, esses percentuais mudam? Para melhor ou para pior?”